O primeiro beijo (com dicas)
O primeiro beijo é como a nossa primeira declaração do IRS, existe um grande fascínio à volta, porque todos os adultos o fazem e falam sobre isso, mas depois na hora ou não sabemos preencher bem a coisa ou recebemos bem menos do que estávamos à espera. E aquilo que antes era um fascínio, passa a ser uma obrigação fiscal que, para alguns casais, passa a ser igualmente anual.
Mas a verdade é que nunca mais nos esquecemos do primeiro.
O meu foi no infantário. Sim precoce. Mas sem mérito algum da minha parte.
Tudo porque no meu infantário, uma colega, essa sim precoce, que por sinal usava e abusava de batom vermelho nos seus jovens lábios, todos os dias me presenteava com dois beijos de "olá" e todos os dias eu fazia exactamente a mesma cara de busto do Cristiano Ronaldo e limpava aflito a cara daquela substância vermelha que me fazia cócegas na bochecha.
Ela, vendo a minha reação, começou a repetir cada vez mais, até que eu, rapaz jovem, desenvolvi uma das primeiras marcas de macho alpha, enchi-me de coragem e comecei...a fugir dela.
Como corria. Corajosamente.
Como fugia. Corajosamente.
Como me escondia. Corajosamente.
Um verdadeiro Don Juan, só que escondido atrás do pilar.
Ao longe.
Infelizmente esta minha atitude teve o efeito oposto. E os ataques continuaram a aumentar.
Até que um dia, baixei as defesas ao entrar numa sala, e de imediato, sinto alguém a segurar-me no colarinho do meu bibe xadrez vermelho e branco e a encostar-me bruscamente à parede. Sinto o impacto nas costas e quando olho em frente já só deslumbro dois lábios esticados esborratadamente vermelhos da minha direcção.
Era tarde demais.
Fui beijado.
Beijado. E beijado... e beijado outra vez.
Foi o meu primeiro mas também o meu 39º beijo nesse dia.
Nem todos nós temos a sorte de ser José Malhoas da vida romântica.
Onde basta ir a um baile de verão e é logo beija beija, atrás da Igreja.
Aqui nem o padre ajudou.
Por isso e para que o vosso primeiro beijo ou próximos, sejam declarações de IRS consideradas certas após validação central e devidamente bem recompensadas, apresento-vos alguns pontos base a seguir:
1- Fechar os olhos se o parceiro não for agradável à vista.
2- Não ter pastilha elástica na boca, a não ser que o parceiro seja adepto de ménage.
3- Se o parceiro for dos faladores, deixá-lo primeiro dar à língua.
4- Se o parceiro for dos tímidos, bom, alguém terá de ser o falador.
5- Se a direcção estiver desalinhada levar a mão à cara do parceiro simulando um cafuné, encaminhado para a direcção certa.
6- Não falar durante o processo. (parece óbvia mas há quem tente...)
7- Terminar sempre com o típico beijo dos correios. Carimbo seco, a sinalizar o fim.
8- Se correr mal, não dizer que a culpa é minha.
(imagem)
P.A
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Este foi o 21º texto da rubrica Palavras Cruzadas, criada em parceria com a Rita da Nova. A ideia é irmo-nos desafiando uns aos outros através da escrita e escrevermos sobre temas que saem um pouco da nossa zona de conforto ou registo. Mas não só entre nós! Vocês também podem sugerir temas e escreverem também se gostarem das sugestões!
Este tema foi minha sugestão, vejam o que a Rita escreveu no blog dela!
Para a próxima, que sugeres Rita?