Café, o seu melhor amigo
O café, ou de forma mais correcta, a baga do café, foi descoberta não por humanos curiosos mas sim por pequenas cabritas que, não satisfeitas com o seu cardápio habitual, resolveram esticar um pouco mais a sua língua para recolher aquela baga extra que habitava em seu pasto verde. São cabras, meus amigos, estão sempre dispostas a experimentar bagas novas e que não lhes digam respeito.
A partir desse momento, em que devoravam aquelas pequenas bagas, qual Popeye com o seu espinafre, as cabritas desataram numa correria e gritaria desenfreada, deixando intrigados os seus pastores e, ao mesmo tempo, bastante frustrados com tal situação. Principalmente por ainda não existir YouTube e não poderem partilhar com os amigos.
Sem essa hipótese de partilha global, restou apenas recolher o produto e trabalhá-lo para consumo próprio. Tomando eles próprios o dito café.
Nascia assim o primeiro caso de dança Maria Leal, em humanos.
Desde esse tempo até agora, o café e a forma como o tomamos foi mudando. Embora exista ainda muita cabra que o tome.
A verdade é que tomar um café é, hoje em dia, muito mais do que uma procura de doping pessoal para exibições de dança fabulosas.
É um acto social.
De tal forma complexo e importante na nossa comunidade, que assume, actualmente, vários papéis sociais de relevo.
Por exemplo, se queremos convidar aquela pessoa para sair:
"Queres sair comigo para te conhecer melhor e fingir que te oiço, para depois estar apenas a olhar para os teus lábios (sou um romântico) fantásticos e incrivelmente sedutores?"
Não me parece que resulte desta forma.
Todos sabemos que sinceridade à bruta numa relação amorosa, só depois do casamento.
Felizmente, temos o álibi perfeito, podemos simplesmente dizer: "Queres ir tomar um café?".
Mas além da sua função de companheiro de engate, o café também assume um papel importante no mundo laboral, principalmente quando queremos sair da nossa mesa em pleno horário laboral e temos o nosso chefe a olhar para nós...
"Não me apetece fazer isto que me mandou fazer agora, vou lá abaixo e já venho chefe!"
Não me parece que resulte muito bem também.
Todos nós sabemos que sinceridade numa relação laboral, só 5 segundos antes de nos despedirmos.
Felizmente, temos o saco de boxe do costume - o café.
E o que pode permitir a um homem pobre, encher o peito numa saída de amigos, chegar-se à frente e pagar uma rodada aos amigos?
Isso mesmo, o café.
(E apenas isso. Pastel de nata, a tua prima!)
Por fim, o que pode uma mulher ou um homem mais ciumento permitir ao seu par sair de casa sozinho, para ir tomar algo?
Exacto. Isso mesmo.
Nada.
O café é bom, mas não resolve relações disfuncionais.
Além destes factores sociais em que somos salvos pelo nosso melhor amigo "o café", bebê-lo assume sempre o próprio acto de ter de o pedir :
P.A: "Era um café se faz favor"
Empregada gira: "Era? já não é?"
Cria-se logo um momento de humor/tensão entre o receptor e o emissor.
Dependendo se o cliente acha o empregado giro ou não, abre-se logo uma janela, ou para pedir o número de telefone, ou o livro de reclamações.
De qualquer forma, em ambos os casos, contamos assinar no fim.
E tudo graças ao café.
Obrigado cabritas.
(imagem)
P.A
Nota: Este texto pretende ser um texto humorístico pelo qual não se pretende ofender ou faltar ao respeito. Toda a gente sabe que não se brinca "café".
Obrigado.
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Este foi o 38º texto da rubrica Palavras Cruzadas, criada em parceria com a Rita da Nova. A ideia é irmo-nos desafiando uns aos outros através da escrita e escrevermos sobre temas que saem um pouco da nossa zona de conforto ou registo. Mas não só entre nós! Vocês também podem sugerir temas e escreverem também se gostarem das sugestões!
Este tema foi sugestão da Rita, vejam o que ela escreveu no blog dela! Como o calor está para breve, propunha falarmos de esplanadas para o próximo Palavras Cruzadas.