As Redes Sociais, os Media e Pedrógão Grande
Ontem parei um pouco e tentei analisar o comportamento desta máquina informativa que nos envolve hoje em dia.
Como é que isto funciona? Existem tragédias no mundo, falhas, erros, problemas. Mas como é que sabemos de todos estes assuntos? Que prioridade existe afinal na informação?
Passámos as duas últimas semanas em constante foco em Pedrógão Grande. Principais destaques, dramas, lutas, perdas. Uma tragédia apresentada com elevado teor de importância, que na realidade, infelizmente o foi. Depois veio o tempo de antena do caso da Judite de Sousa, tanta era a ânsia desta máquina de informar de ser a primeira a chegar, de chegar mais perto, de ser a que mais depressa nos informa. Afinal de contas, hoje em dia, a notícia que conta é sempre a primeira. E neste caso o foco foi de tal forma nesse objectivo que acabou por chocar com valores morais de alguns espectadores.
E as redes sociais explodiram.
Felizmente o fogo foi extinto assim como a polémica da Judite. As indignações nas redes sociais, ardem muito, mas duram pouco.
E nesta terça-feira tivemos um pavilhão cheio, com 25 actuações dos melhores músicos portugueses [e muitos mais quereriam actuar ali] a trabalharem gratuitamente para o evento com quase mil pessoas numa onda solidária imune a explosões de redes sociais.
Pela primeira vez na história destes mesmos meios de informação, os tais sempre ansiosos por informar, em particular as televisões e as rádios, uniram-se numa emissão única, com profissionais de todas as estações sentados lado a lado durante 5 horas de uma emissão incrivelmente histórica. E foi bom. Muito bom.
E quando tudo esperaria exactamente que fosse esse o destaque da noite, aquele que deixaria as redes sociais em êxtase pelo feito conquistado, eis que Salvador Sobral resolve falar sobre a sua ausência de bifidus activos e como isso afectaria o gosto dos portugueses.
E as redes sociais explodiram novamente.
De tal forma que este ar quente de Salvador será por certo o flato português mais conhecido de sempre por terras de Camões.
Ao ponto de, pela certa, existirem neste momento mais pessoas informadas deste gosto particular de Salvador "por buffets", do que conscientes dos cerca de 1 milhão e 150 mil euros que foram angariados nesse mesmo evento - o real objectivo da noite.
Aquele que, mais uma vez, mostra como o povo português é um povo que, peiditos e Judites à parte, nos orgulha profundamente. Esse que não devemos esquecer.
Resta saber agora, terminado o alívio do Salvador, qual será a próxima viagem deste vai-vem que é a Ford Transit da indignação nas redes sociais.
(imagem)
P.A