Palavras Cruzadas // A rapariga que adormece sempre
Hoje vou contar-vos uma história de embalar.
Mas não é para adormecerem. Podem ler descansados que não há efeitos secundários. Pelo menos não é esse o objectivo.
Trata-se de uma história de embalar de uma jovem rapariga que adormece sempre que estou a ver televisão com ela.
Pode ser telejornal. Pode ser novela. Até pode ser debate político, se bem que neste último não tenho bem a certeza, porque também adormeço.
O que é certo é que é uma questão de segundos para que a cara desta linda donzela comece a adoptar uma nova forma. E é logo assim que se deita neste sofá e olha para a televisão. Não falha. Tanto que já tirei apontamentos:
- Primeiro aquele piscar de olhos cada vez mais lento. Que das primeiras vezes até confundi com uma espécie de preliminares de dança de acasalamento - de trocas de olhares marotos, sedutores, tudo em câmara lenta. A safada.
Só que depois afinal não.
- Depois a demora acentuada em cada sílaba, como se dizer "car-to-li-na" demorasse tanto como ler duas vezes os "Os Maias".
- E por fim a respiração pausada e bem cronometrada, que ela gosta de chamar de respiração normal. E eu de ressonar.
Mentira. Ela não ressona. Estou a brincar.
Respira é em alemão quando dorme. O que para mim até é sexy.
Demonstra que é culta.
Mas das duas uma, ou eu quando vejo televisão tenho uma personalidade forte em Xanax, ou hálito fresco anestésico, ou então o sofá cá de casa é feito de propofol e eu sofro outro tipo de sintomas, não sonecas.
Eu até estou mais inclinado para a última, porque costuma ser deste mesmo sofá que nascem a maioria dos textos do blog. O que avaliando pelo grau de demência apresentado, até seria a única boa e plausível justificação possível: Tenho um sofá ganza.
De qualquer forma, pessoa que me está a ler desse lado, se por acaso sofre deste problema ou conhece alguém que sofra, eu tenho a solução ideal para si. E sim tirei esta frase da TV SHOP.
A solução é simples:
Pipocas!!
Sim. Esse milho aos pulos aquecido faz maravilhas. Até exorciza o alemão da menina cá de casa. Descobri que se existirem pipocas suficientes para manter ocupada a donzela, esta consegue ver um filme até ao fim! Isso mesmo! Inteirinho!
Não acredita?
Teste você mesmo. - Tenho mesmo de deixar de ver tanta TV SHOP.
Mas calma, aconselho precaução no uso de pipocas. Não rebentem logo com a rapariga. Há risco de overdose.
Por segurança, comecem primeiro com trailers de 2 minutos. Para não bater muito forte.
Depois curtas-metragens de 15-20 minutos quando sentirem que já estão mais independentes no acto de manter a pestana aberta.
E só depois um filme pequenito. Uma "Pequena Sereia" ou um "Querida encolhi os miúdos".
Vão por mim, desde que usamos pipocas cá em casa, a nossa vida mudou.
Até já vemos filmes do Manoel de Oliveira.
Sem intervalo.
P.A
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Este foi o terceiro texto da rubrica Palavras Cruzadas, criada em parceria com a Rita da Nova. A ideia é irmo-nos desafiando uns aos outros através da escrita e escrevermos sobre temas que saem um pouco da nossa zona de conforto ou registo. Mas não só entre nós! Vocês também podem sugerir temas e escreverem também se gostarem das sugestões!
Esta semana escolhi eu. Podem ver como a Rita respondeu a no blog dela.
Agora é a vez dela...Estou para ver o que me vai aquela rapariga dar para escrever daqui a 2 quartas-feiras!
Porta-te bem Rita!