Eu queria engordar, mas não consigo
Neste mundo em que muitos lutam pelo peso certo olhando para baixo, eu ponho-me constantemente em bicos dos pés para o alcançar.
Vou ao hipermercado, produtos para emagrecer. Ligo a televisão, produtos para emagrecer. Sai uma nova receita, preocupação de quem a faz - para emagrecer.
Vou à caixa de email, emails de spam, adivinhem?
Isso mesmo, se quero ter um bom desempenho sexual.
É esta a vida de um magro com cérebro de gordo.
Só conheço produtos light e eu não quero coisas light! Acho as heavy bem mais sexys e saborosas! Mas também não quero as que me fazem mal.
Aquela teoria do que o que não mata, engorda, é um jogo que não me arrisco a jogar. Mais depressa me imagino passivamente deitado no meu funeral, magro como sempre, do que a ganhar finalmente aqueles ambiciosos 5 quilos.
Vocês querem emagrecer?
Eu posso doar-vos sangue se quiserem experimentar. Se calhar é essa a minha missão neste planeta - destruir grande parte do negócio dos nutricionistas.
Isto porque, consigo ter o peso mínimo para poder doar, senão até isso me tiravam.
O mundo não está mesmo feito para magros que querem engordar um bocadinho.
Uns dizem que é sorte. Outros metabolismo. Eu chamo-lhe lombriga.
E provavelmente terei razão. E o sangue não vos iria ajudar muito. Podem descansar nutricionistas.
Mas a verdade é que por mais dietas que não siga, o resultado é sempre o mesmo. Tenho hoje, em 2017, o mesmo peso que tinha em 2000. A última vez que ganhei um quilo, foi em escudos.
Vá lá que neste processo da mudança para o euro fiquei mais bonito. Quer dizer, menos feio. O acne, ao menos esse desapareceu, coma eu muito ou pouco chocolate. Se não ainda me continuavam a achar, hoje, o mesmo marrão trinca-espinhas e com vulcões na cara, do 9ºC.
Só me resta portanto acreditar na hipótese de lombriga e que, no mundo dos parasitas, deva ser conhecido como uma referência nos sites e aplicações de habitação e destinos a visitar.
Consigo imaginar uma espécie de "tripa-advisor" para parasitas. Em que ténias e lombrigas podem dar o seu voto e opinião e em que surjo certamente em primeiro lugar, destacadíssimo na homepage, na categoria de habitação familiar.
Isto a contar com os, pelo menos, 17 largos anos de abrigo e comida que já devo ter garantido aqui, a estes meus pacíficos inquilinos:
Inquilino parasita do P.A - Recomendo, instalações 5 estrelas. Alimento não falta. Ele come como se tivesse 200 quilos e nunca engordou. Nem estranha, o burro. Senão já tínhamos sido corridos.
No verão costuma ter mais correntes de ar, mas suporta-se.
Filho do meio do inquilino parasita do P.A - 5 estrelas - adoro o espaço e a comida é fabulosa! Adoro quando ele come pizza! Detesto o Natal. Aquele bacalhau...
Afinal de contas qual é o espanto? Sou português, é inato. Herdei, como vocês, a arte de bem receber.
Mas seja lombriga, ou metabolismo, ou outra qualquer justificação clínica que desconheço, mais adequada, a verdade é que aguardo ansiosamente pela crise da meia idade para ver se isto muda finalmente. É a minha última esperança.
Sonho com o dia em que vou acordar e ver-me finalmente com aquela barriguinha de cerveja sexy.
Ando farto destes abdominais definidos, six-pack, de magro.
(imagem)
P.A
*P.S - Sim, são os meus pés.